segunda-feira, 16 de abril de 2012

Infância, quantas lembranças...

Nós éramos 6: 
Eu era a filha mais velha, entre as meninas, e tinha quase 8 anos quando mamãe ficou viúva. Ela voltou a lecionar para criar os filhos, e distribuía "funções" semanais para casa um de nós.
Eu tinha que fazer os pratos para os irmãos. Um dos irmãos vinha me "ajudar", isto é, tirava o melhor pedaço para ele e repartia o que sobrava. Fui reclamar com mamãe que me disse:
- Quem parte, reparte. Se não fica com a melhor parte, ou é bobo ou não tem arte! Cumpra bem sua obrigação que os resultados sempre lhe serão favoráveis.
Aprendi.



Esta lembrança é engraçada:
Numa festa de aniversário havia um mágico que hipnotizava. Ninguém queria ir para demonstrar. Eu me apresentei. Nisto, quando eu já tinha entrado em transe, meu irmão diz ao mágico:
- Peça para ela tocar piano Luna!
Ele pediu e eu me abaixei e comecei a soprar forte a abanar com as mãos. Risada geral...
O mágico bateu palmas para tirar-me do transe e pediu-me para tocar piano: e eu desta vez faço os movimentos "tradicionais" com as mãos e os dedos de quem dedilha um teclado imaginário.
Ele então me conta o que fiz e pergunta:
- Por que você soprou e abanou na primeira vez?
Saí correndo atrás do moleque (meu irmão), mas ele foi mais rápido!
Luna era a marca do nosso fogão à lenha, e uma das minhas "funções" era acendê-lo. Eu dizia para as amigas:
- Está na hora de tocar piano!
Todas tinham aulas de balé, francês, pintura, ginástica e eu, é claro, não podia deixar por menos. Tocava "piano" Luna! Por que não?


Mais uma lembrança que guardo com carinho:
Entrei para o Instituto de Educação com apenas 10 anos. Tinha horror à matemática e seus teoremas. Todos os dias, antes das aulas começarem, passava na Igreja da Boa Viagem e pedia a Deus para Dª Helena, minha professora de matemática, ter "dor de barriga" e assim não poder ir à aula. Que decepção!... Ela sempre estava presente na sala nos aguardando para começar a aula... 
Quando as aulas terminavam, passava de novo na igreja e "reclamava": 
- O Senhor não me ouviu? Será que falei tão baixinho assim?
Um dia, Dª Helena, vendo-me na igreja, perguntou brincando:
- O que está pedindo a Deus? Um namorado?
Fiquei sem jeito mas acabei contando meu pedido, e ela, para minha surpresa, deu uma boa risada!
Sabem o que fez? Começou a levar-me para sua casa após as aulas e trabalhar comigo na matemática, que passou a ser minha matéria preferida!
Aprendi, com ela, a dar atenção aos alunos com dificuldades e sempre os trouxe para estudar em casa. Habito que conservo até hoje!
Mas não me esqueci de desculpar-me com Deus e ter Dª Helena nas minhas orações e no meu coração!



Um comentário:

  1. Três lindas histórias-memórias!

    Para mim, poderiam até ser três postagens.

    Acho que a terceira até daria argumento para ser usado em filme!

    Mas ainda bem que a Vovó Mariquita ensinou:
    "Quem parte, reparte.
    Se não fica com a melhor parte,
    ou é bobo ou não tem arte!"

    E por isto está a senhora aqui espertamente partilhando conosco sua melhor parte
    e com muito estilo e arte!

    Obrigadézimo!!!

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